Assim como qualquer aluno, as crianças autistas têm direito à educação de qualidade, diversificada e adaptada às suas necessidades, inclusive na escola regular. No entanto, pessoas com esse diagnóstico recebem o estigma de que não conseguem aprender, o que é totalmente equivocado. 

Tratando-se da educação bilíngue, há estudos que mostram que as crianças autistas se desenvolvem muito bem ao estar em contato com dois idiomas simultaneamente. O bilinguismo pode, inclusive, funcionar como uma espécie de terapia para os pequenos com TEA. Para entender melhor o tema, leia os próximos tópicos.

Entenda o que é autismo 

Primeiramente, é necessário esclarecer que a terminologia científica correta para autismo é o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esse grupo tem outros transtornos do desenvolvimento infantil como, por exemplo, Transtorno Desintegrativo da Infância.

Conforme o 5º Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o TEA está no grupo dos transtornos do neurodesenvolvimento, com sintomas que manifestam na primeira infância, antes mesmo de a criança autista entrar na escola. 

Os déficits no desenvolvimento variam de acordo com o nível de suporte da pessoa. Entretanto, no geral, eles causam prejuízos na vida pessoal, social, acadêmica e profissional como limitações nas funções executivas, de comunicação e nas habilidades sociais. 

Segundo o DSM-5, o TEA caracteriza-se por déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, incluindo na reciprocidade social, em comportamentos não verbais de comunicação usados para interação social e em habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos. 

Vale ressaltar que as crianças autistas têm particularidades diferentes, assim como qualquer pessoa sem TEA. Dessa maneira, a escola não deve tratar todos os alunos de maneira igual, pois cada um manifesta o transtorno de maneira singular. Afinal, o DSM-5 estabelece que há 3 níveis no espectro, onde cada um necessita de suporte diferente.

Crianças autistas e ensino bilíngue 

O TEA, assim como outros transtornos do neurodesenvolvimento e aprendizagem, é carregado de estigmas e preconceitos na sociedade. Há uma ideia equivocada de que crianças autistas não aprendem ou não sabem socializar e conviver saudavelmente com outras pessoas.

Contudo, essas ideias são erradas, pois elas podem aprender como qualquer outra pessoa — desde que recebam suporte multidisciplinar adequado e os estímulos corretos. 

Tratando-se do bilinguismo, aprender dois idiomas pode, inclusive, ser uma terapia natural.

De acordo com uma pesquisa divulgada em 2021 na Autismo Research, elaborada pela Universidade de Genebra (Suíça), em colaboração com as Universidades de Tessália (Grécia) e Cambridge (Grã-Bretanha), o bilinguismo aumenta a Teoria da Mente (perspectivas, comportamento, crenças e emoções de terceiros) em crianças autistas.

Dessa maneira, resulta também na melhoria de outros domínios das funções executivas. Segundo o estudo, a melhoria foi observada na linguagem e nas habilidades de consciência metalinguística — habilidades sintáticas, fonológicas e semânticas. 

A pesquisa demonstrou também vantagens para crianças bilíngues com TEA sobre as crianças monolíngues participantes da pesquisa, no que se refere à compreensão de crenças. Isso surge, assim, que buscar o bilinguismo pode ser benéfico para a cognição em crianças autistas. 

Uma das respostas para este benefício é que, no aprendizado do inglês ou outra língua adicional, o aluno precisa primeiro trabalhar habilidades relacionadas à compreensão do idioma da outra pessoa. Afinal, é necessário atentar-se à comunicação exercida pela outra pessoa. Depois, o indivíduo utiliza as funções executivas. 

Por fim, segundo a comunidade de divulgação de informações médicas e científicas News Medical:

“O bilinguismo é muito benéfico para crianças com TEA (…) Agora, está claro que, longe de colocar as crianças autistas em dificuldade, o bilinguismo ajuda estas crianças a ultrapassar vários aspectos, servindo como uma espécie de terapia natural”.

Como conduzir o aprendizado bilíngue com alunos com TEA? 

O ensino bilíngue tem particularidades diferentes da educação bilíngue. Contudo, as escolas que atuam duas línguas de instrução precisam acrescentar cuidados específicos quando se trata de alunos com TEA.

Aprenda também: Saiba o que é e como identificar alunos com dificuldade de aprendizagem

Atenção à sensibilidade sensorial 

Um dos sintomas típicos de crianças autistas é a sensibilidade sensorial, que pode ocorrer em um ou em todos os cinco sentidos — visão, audição, olfato, tato e paladar. Essa manifestação pode acontecer tanto para mais (hipersensibilidade) quanto para menos (hipossensibilidade). 

Tendo isso em mente, o professor bilíngue deve planejar aulas e atividades de maneira que o aluno tenha menos chances de reagir negativamente aos estímulos. Contudo, cada criança autista é diferente, e a escola precisa entender qual a sensibilidade sentida por cada estudante com TEA. 

Isso pode ser feito por meio de uma conversa com a família do aluno, visando entender melhor quais as características dessa criança. Ou, também, por meio de um olhar atento para observar quais estímulos são negativos durante a rotina escolar. Pode ser uma música que está muito alta, ou um desenho com cores muito intensas, por exemplo.

Mudanças na rotina escolar 

Algumas crianças autistas precisam seguir rotinas para viverem tranquilamente, pois mudanças bruscas podem desencadear crises de ansiedade e irritabilidade. Ou seja, elas necessitam saber exatamente o que acontecerá a cada dia. 

Qualquer alteração nas atividades e na rotina da escola bilíngue precisa ser comunicada previamente à família do estudante, a fim de preparar o aluno para adaptar-se à nova situação. 

Além disso, é recomendado que o professor bilíngue estabeleça alguns rituais com as crianças autistas para favorecer o aprendizado na sala de aula. Pode ser por meio da colocação de música em inglês antes de todas as aulas, ou estipular comandos para determinadas atividades desenvolvidas na rotina escolar.

Atividades de interação social 

A dificuldade de socialização também faz parte da vida de crianças autistas. Por causa disso, a escola bilíngue precisa desenvolver atividades que estimulem a interação social na sala de aula, respeitando sempre o tempo de aprendizagem e adaptação do aluno, além dos déficits específicos apresentados por cada indivíduo. 

Uma ótima maneira de realizar essa interação é juntar alunos com interesses idênticos. Isso porque é comum que crianças autistas desenvolvam interesse intenso em diversas coisas, como, por exemplo, aviões. Ao entender qual o hiperfoco do aluno com TEA, o professor poderá incluí-lo nas aulas para atrair o interesse pelo ensino. 

Como você viu neste texto, as crianças autistas podem e devem ser inseridas no bilinguismo, principalmente na escola regular com outras pessoas. E, se a sua escola tem alunos com TEA e você planeja em levar essa inovação, entre em contato com o High Five para conhecer o programa de educação bilíngue.